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domingo, 26 de junho de 2022

Sete Pecados Capitais

Brueghel, o Velho, o mestre da alegoria.

("Sete Pecados capitais", interpretado nas gravuras - descrição nas fotos)

O mundo conhece Pieter Brueghel, o Velho , como um excelente pintor, cujas obras, mesmo depois de cinco séculos, não perderam seu significado e relevância. Ambos são informativos em termos de história e talentosos em termos de pintura. No entanto, no século 16, o brilhante artista não era conhecido por suas pinturas, mas por seus trabalhos gráficos. Começou sua carreira criativa como desenhista, criando esboços para futuras gravuras. E hoje, nossa galeria virtual apresenta dois famosos ciclos gráficos - "Os Sete Pecados Capitais" e "As Sete Virtudes", onde Brueghel apareceu pela primeira vez como um magnífico mestre da alegoria.
Infelizmente, não há detalhes sobre a data exata de nascimento de Pieter Brueghel e pouco se sabe sobre sua vida na adolescência.
Existem poucas personalidades na história da arte tão misteriosas e ambíguas quanto Pieter Brueghel, o Velho. Muito pouco se sabe sobre sua vida, e apenas 45 pinturas pitorescas, bem como gravuras criadas de acordo com seus desenhos, chegaram ao nosso tempo do patrimônio artístico.
Em meados do século XVI, a Holanda tornou-se o centro europeu de produção e venda de publicações impressas. Brueghel e seu editor Hieronymus Kok desempenharam um papel muito significativo nisso. O mestre gravador Jerome Kok contratou artistas e gravadores talentosos que criaram desenhos para publicações impressas. Pieter Brueghel, que começou sua carreira como desenhista, acabou por estar nesta lista. Logo Kok, vendo o potencial oculto em seu trabalhador, enviou o jovem artista em uma viagem criativa à França e à Itália para fazer uma série de desenhos de paisagens italianas destinados a esboços para gravuras. A propósito, cerca de 120 desenhos de Brueghel feitos nesta jornada sobreviveram até hoje.
Em alguns desenhos do mestre, podemos ver fragmentos de tramas que repetem telas conhecidas ou mesmo citações de obras de outros mestres, e algumas são obras únicas do autor muito especiais.
Foi na oficina de H. Kok que o jovem artista viu gravuras das pinturas de Hieronymus Bosch, que o impressionaram profundamente. E ele, inspirado pelo que viu, criou suas próprias variações sobre os temas das pinturas do grande pintor. Mas o que distingue as obras de Brueghel das tramas de Bosch é que o artista mostrou o inferno como uma espécie de “cidade do pecado”
"Sete Pecados capitais" - descrição nas fotos
"Os Sete Pecados Capitais" - as obras gráficas mais famosas do mestre, ilustrando vividamente os vícios da humanidade, incluídos no ciclo, composto por oito desenhos: "Raiva", "Preguiça", "Vaidade (Orgulho)", "Avareza ", "Gula", "Inveja", "Lust" e a composição final - "The Last Judgment". Esses desenhos são densamente "povoados" de personagens - representantes quase sem rosto de diferentes classes, cada um ocupado com seu próprio negócio, de acordo com o enredo.
E para concluir, gostaria de enfatizar que muitos dos símbolos utilizados pelo artista tinham, mesmo naquela época, uma interpretação pouco aceita e que nem todos os personagens de Brueghel podem ser decifrados. Mas, em termos gerais, a essência do pecado e da retribuição, na forma em que se desenvolveu na Holanda protestante, é amplamente compreensível para o espectador tanto da fé católica quanto da ortodoxa.

TRADUÇÂO: © Christiane Wittel - pesquisadora e historiadora
*Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial desta Tradução, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de ensino, estudo ou pesquisa, desde que CITADA A FONTE.


"Julgamento Final"

E, por fim, a retribuição pelos pecados... No "Juízo Final" é necessário notar as portas do inferno na forma das mandíbulas do Leviatã bíblico, para onde são enviados diretamente os pecadores que navegavam de barco.



"Amor ao dinheiro". Avareza. (Avaritia)
Amor ao dinheiro (Avaritia). Pieter Brueghel, o Velho.



"Doçura". (Luxúria)

Existem claramente variações sobre o tema do famoso tríptico de Bosch "O jardim das delícias mundanas": frutas enormes, "bolhas de luxúria".



"Gula". (gula)

Gula. (Gula). Pieter Brueghel, o Velho.

Para enfatizar ao máximo a essência deste desenho, o artista retratou uma gaita de foles - um símbolo da pecaminosa "diversão dos pobres". Ela está pendurada em uma árvore, como se ela também - come demais.



"Inveja" (Invidia)


Inveja. (India). Pieter Brueghel, o Velho.

A inveja é muito difícil de transmitir em uma imagem. No entanto, Brueghel usou um símbolo de inveja bastante persistente na iconografia neerlandesa: dois cães mordendo o mesmo osso.

Curiosamente, já nesses primeiros trabalhos, Brueghel começou a usar sua técnica favorita - retratar provérbios folclóricos flamengos como alegorias.



"Preguiça".(Acedia)

Preguiça. (Acédia). Pieter Brueghel, o Velho.

O artista mostrou alegoricamente a preguiça através de imagens de caracóis e animais rastejando lentamente, mocassins adormecidos e jogadores de dados matando o tempo na taverna (até o relógio parou e adormeceu). No centro da composição está uma figura feminina adormecida, simbolizando a Preguiça. O próprio diabo apóia seu travesseiro, que é um símbolo do provérbio holandês: "A preguiça é o travesseiro do diabo". Apenas um monge, sem sucesso, pede a todos que acordem da hibernação.



Raiva. (Ira). Pieter Brueghel, o Velho.

Aqueles que queimaram com malícia e ódio, no sentido literal - estão em chamas...



"Vaidade" (Orgulho) - Superbia


Vaidade (Orgulho) - Superbia. Pieter Brueghel, o Velho.

O espelho é um símbolo tradicional de orgulho, às vezes até atuando como instrumento de Satanás. Por isso, às vezes os espelhos eram emoldurados com a imagem da Paixão do Senhor para reduzir os danos da admiração e proteger-se das tentações do diabo. Mas parece que os personagens desta obra de Brueghel estão preocupados apenas consigo mesmos.


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

São Jerônimo, Doutor da Igreja

São Jerônimo, grande Doutor da Igreja Católica, é comemorado hoje, dia trinta de setembro. Devemos a ele a tradução da Bíblia Sagrada para a língua latina. Ele a traduziu dos idiomas grego e hebraico. A partir desta tradução para o latim, a Bíblia então pôde ser traduzida para vários idiomas, e pode-se dizer que a Palavra de Deus iniciou, desde então, a ser difundida. Além disso, foi um homem austero, decidindo-se retirar para o deserto para viver rigorosas penitências, e assim se aproximar mais de Deus.

Para homenagear este grande santo, dono de uma iconografia espetacular, eu trouxe algumas pinturas belíssimas que retratam este santo, desde as gravuras de Albrecth Dürer, até Francisco de Zurbarán.


Antonello da Messina, 1472


Albrecht Altdorfer, 1507



Albrecht Dürer, 1492



Albrecht Dürer, 1496



Antonello da Messina, 1481



Caravaggio, 1606



Caravaggio, 1605



Caravaggio, 1607



El Greco, 1595



Hyeronimus Bosch, 1476-c.1500



Leonardo Da Vinci, 1480



Lorenzo Lotto, 1515



Pinturicchio, 1481



Pinturicchio, 1480



Francisco de Zurbarán, 1640



Francisco de Zurbaran, SD



Espero que apreciem.

sábado, 18 de setembro de 2021

Nossa Senhora das Dores por Hans Memling

 O mês de Setembro, dedicado a Nossa Senhora das Dores, pede uma postagem especial sobre a Virgem Dolorosa. Esta terna mãe que padeceu tantos tormentos, mas sempre de forma tão humilde, que nos faz refletir sobre os nossos sofrimentos, e em como aceitá-los por amor a Nosso Senhor, nosso redentor.

No livro Glórias de Maria, de Santo Afonso de Ligório, há um capítulo todo dedicado a Nossa Senhora das Dores. Vou unir algumas partes deste capítulo, mais especificamente falando sobre as dores de Maria Santíssima, com as pinturas do pintor flamengo Hans Memling, um dos maiores pintores do Renascimento Nórdico, que retratou tão perfeitamente Nossa Senhora das Dores.

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Resumo histórico. Duas vezes no ano lembra-se a Igreja das Dores de Maria Santíssima: na Sexta-feira que antecede ao domingo de Ramos e no dia 15 de setembro. Já antes dessas solenidades vinha o povo cristão consagrando terna lembrança às Dores da Mãe de Deus. No século XIII a tendência geral fixa-se na celebração das Sete Dores. A Ordem dos Servitas, principalmente, fundada em 1240, muito contribuiu para propagar essa devoção. Pois seus membros deviam santificar a si e aos outros pela meditação das Dores de Maria e de seu Filho. Pelos fins do século XV era quase geral no povo cristão o culto compassivo das dores de Maria. Os poetas de vários países consagraram-lhe inúmeras poesias. O hino Stabat Mater dolorosa tem por autor o franciscano Jacopone da Todi (1306). A festa foi primeiramente introduzida pelo Sínodo de Colônia em 1423, sob o título de Comemoração das Angústias e Dores da Bem-aventurada Virgem Maria, para expiação das injúrias cometidas pelos Hussitas contra as imagens sagradas. Propagou-se rapidamente, tomando o nome de festa de Nossa Senhora da Piedade. Em 1725 introduziu-a o papa Bento XII no Estado Pontifício, e em 1727 estendeu-a para a Igreja universal. Mas, porque perdia um pouco de seu valor, por estar na quaresma, Pio VII, em 1804, mandou que fosse celebrada também no terceiro domingo de setembro. Com a reforma do Breviário, por Pio X, veio a festa a ter uma data fixa no dia 15 de setembro (Nota do tradutor).

I. MARIA FOI A RAINHA DOS MÁRTIRES POR CAUSA DA DURAÇÃO E INTENSIDADE DE SUAS DORES * Quem poderia ouvir sem comoção a história mais triste que jamais houve no mundo? Uma nobre e santa senhora tinha um único filho, o mais amável que se possa imaginar. Era inocente, virtuoso e belo. Ternamente retribuía o amor de sua mãe. Nunca lhe havia dado o mínimo desgosto, mas sempre lhe havia testemunhado todo respeito, toda obediência, todo afeto. Nele, por isso, a mãe tinha posto todo o seu amor, aqui na terra. Ora, que aconteceu? Pela inveja de seus inimigos, foi esse filho acusado injustamente. O juiz reconheceu, é verdade, a inocência do acusado e proclamou-a publicamente. Mas, para não desgostar os acusadores, condenou-o a uma morte infame, como lhe haviam pedido. E a pobre mãe, para sua maior pena, teve de ver como aquele tão amante e amado filho lhe era barbaramente arrancado, na flor dos anos. Fizeram-no morrer diante de seus olhos maternos, à força de torturas e esvaído em sangue num patíbulo infamante. Que dizeis, piedoso leitor? Não vos excita à compaixão a história dessa aflita mãe? Já sabeis de quem estou falando? Esse Filho, tão cruelmente suplicado, foi Jesus, nosso amoroso Redentor. E essa Mãe foi a bem-aventurada Virgem Maria, que por nosso amor se resignou a vê-lo sacrificado à justiça divina pela crueldade dos homens. Portanto é digna de nossa piedade e gratidão essa dor imensa que Maria sofre por nosso amor. Mais lhe custou sofrê-la, do que suportar mil mortes. E se não podemos corresponder dignamente a tanto amor, demoremo-nos hoje, ao menos por algum tempo, na consideração de suas acerbíssimas dores. Digo, por isso: Maria é Rainha dos mártires, porque as dores de seu martírio excederam às dos mártires 1° em duração; 2° em intensidade.

Maria é Rainha dos mártires Pois entre todos os martírios foi o seu o mais longo e * também o mais doloroso. Quem lhe poderá medir jamais a extensão? Ao considerar o sofrimento dessa Mãe dolorosa, não sabia Jeremias a quem compará-lo. Pois não exclama: A quem te compararei? Porque é grande como o mar o teu desfalecimento. Quem te remediou? (Lm 2,13). – “Ó Virgem bendita, como a amargura do mar excede todas as amarguras, assim tua dor excede todas as outras dores” – desta forma explica Hugo de S. Vítor o citado texto. Na opinião de Eádmero, a dor de Maria era suficiente para causar-lhe a morte a cada instante, se Deus não lhe tivesse conservado a vida por um singular milagre. E S. Bernardino de Sena chega a dizer que a intensidade de seu sofrimento tão aniquiladora foi, que, dividida por todos os homens, bastaria para fazê-los morrer todos, repentinamente.

Maria recompensa a veneração de suas dores Tão grande amor de Maria bem merece toda a nossa gratidão. Mostremo-la ao menos pela meditação e compaixão de suas dores. Queixou-se, por isso, a Virgem Santíssima a S. Brígida que muito poucos são os que dela se compadecem, sendo que a maior parte dos homens vivem esquecidos de suas aflições. Recomendou-lhe em seguida, com muita insistência, que delas guardasse contínua memória. Quanto é agradável a Maria essa meditação de suas dores podemos deduzi-lo da aparição com que contemplou em 1239 aqueles 7 devotos seus, fundadores da Ordem dos Servitas. Apresentou-se-lhes tendo nas mãos um hábito negro, ordenou-lhes meditassem com frequência e amor em suas dores, e que em memória delas vestissem aquela lúgubre roupeta. O próprio Jesus Cristo revelou a S. Verônica de Binasco que ele mais se agrada em ver meditados os sofrimentos de Maria, que contemplados os seus próprios. Filha, disse o Senhor, caras me são as lágrimas derramadas sobre minha Paixão; mas, como amo imensamente a minha Mãe, ainda me é mais cara a meditação das dores que ela padeceu, vendo-me morrer. Assim é que Jesus prometeu graças extraordinárias aos devotos das dores de Maria. Pelbarto refere-nos a seguinte revelação de S. Isabel a esse respeito. S. João Evangelista, depois da Assunção da Senhora, muito desejava revê-la. Obteve com efeito essa graça e sua Mãe querida apareceu-lhe em companhia de Jesus Cristo. Ouviu em seguida Maria pedir ao Filho algumas graças especiais para os devotos de suas dores, e Jesus prometer quatro principais graças. Ei-las: 1. esses devotos terão a graça de fazer verdadeira penitência por todos os seus pecados, antes da morte; 2. Jesus guardá-los-á em todas as tribulações em que acharem, especialmente na hora da morte; 3. ele lhes imprimirá no coração a memória de sua Paixão, dando-lhes depois um prêmio especial no céu; 4. por fim os deixará nas mãos de sua Mãe para que deles disponha a seu agrado, e lhes obtenha todos e quaisquer favores. Comprovando tudo isso, leia-se o exemplo seguinte que mostra quanto é útil à salvação eterna venerar as dores de Maria.

EXEMPLO 

Lê-se nas Revelações de S. Brígida que havia um senhor tão nobre pelo nascimento como vil e depravado pelos costumes. Fizera pacto expresso com o demônio, a quem havia servido como escravo durante sessenta anos seguidos, sem se aproximar dos sacramentos, e levando a pior vida que se pode imaginar. Ora, estando para morrer esse fidalgo, Jesus Cristo, para usar com ele de misericórdia, ordenou a S. Brígida que pedisse a seu diretor espiritual que o fosse visitar e exortar a confessar-se. O padre foi, mas o doente respondeu que já se tinha confessado muitas vezes, não necessitando mais de confissão. Foi segunda vez, porém o infeliz escravo do inferno obstinou-se na sua impenitência. Jesus de novo disse à Santa que o padre não devia desanimar. Este voltou terceira vez e referiu ao doente a revelação feita à Santa, dizendo-lhe que tinha voltado por ordem do Senhor, o qual queria usar de misericórdia em seu favor. Isto ouvindo, o infeliz começou a enternecer-se e a chorar. Mas como, (exclamou em seguida), poderei ser perdoado? Durante sessenta anos servi ao demônio, e dele me fiz escravo e tenho a alma tão carregada de inúmeros pecados! – Filho, respondeulhe o padre, animando-o, não duvides; se te arrependeres, prometo-te o perdão em nome de Deus. Começando então a ter confiança, disse o infeliz ao confessor: Meu Pai, eu me julgava condenado e desesperava da minha salvação; mas agora sinto uma dor de meus pecados, que me anima a ter confiança. Com efeito, confessou-se no mesmo dia quatro vezes, com muita contrição. No dia seguinte comungou, e morreu seis dias depois, muito contrito e resignado. Depois de sua morte, Jesus Cristo falou de novo a S. Brígida e disse-lhe que aquele pecador se tinha salvado, que estava no purgatório, e devia a salvação à intercessão da Virgem, sua Mãe, pois apesar da vida perversa que levara, tinha conservado a devoção às suas dores, recordando-as sempre com compaixão.

Oração a Nossa Senhora das Dores

Ó minha Mãe dolorosa, Rainha dos mártires e das dores, chorastes tanto vosso Filho, morto por minha salvação; mas de que me servirão vossas lágrimas, se eu me perder? Pelos merecimentos, pois, de vossas dores, impetrai-me uma verdadeira emenda de vida, com uma perpétua e terna compaixão de Jesus e vossas dores. E já que Jesus e vós, sendo inocentes, tanto padecestes por mim, obtende-me que eu, réu do inferno, padeça também alguma coisa por amor de vós. Digo-vos com S. Boaventura:* “Ó minha Senhora, se eu vos magoei, feri e enternecei meu coração, para castigar-me; se eu vos tenho servido, fazei-o então em recompensa disso. Considero uma vergonha me ver sem chagas, quando vós e Jesus estais feridos por meu amor”. Finalmente, ó minha Mãe, ainda um pedido. Pela aflição que sentistes vendo diante de vossos olhos vosso Filho, entre tantos tormentos, inclinar a cabeça e expirar na cruz, suplico-vos que me alcanceis uma boa morte. Ah! não me abandoneis na última hora, ó advogada dos pecadores. Não deixeis de assistir minha alma aflita e combatida, na terrível e inevitável passagem da vida à eternidade. E como é possível que eu perca então a palavra e a voz, para invocar vosso nome e o de Jesus, que sois toda a minha esperança, invoco-vos desde já, a vosso Filho e a vós, pedindo-vos que me socorrais no instante final e dizendo: Jesus e Maria, a vós recomendo a minha alma. Amém.


Agora apreciemos as fabulosas pinturas de Memling:





Espero que apreciem.

Salve Maria e Viva Cristo Rei!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Epifania

São Mateus, 2 

"1.Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém."
"2.Perguntaram eles: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 3.A essa notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele. 4.Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. 5.Disseram-lhe: “Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta:"
"6.E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” (Mq 5,1). 7.Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. 8.E, enviando-os a Belém, disse: “Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo”. 9.Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. 10.A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria. 11.Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. 12.Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho."

***

Tanto que viram a estrela, os Magos, alumiados pela graça, deixaram sua terra, sem esmorecerem pela dificultosa viagem que empreendiam; com a mesma alacridade obedeçamos às divinas inspirações, sem que nos possa deter obstáculo algum.

Os Magos indagaram cuidadosa e animosamente do lugar onde achariam o Rei cujo nascimento a estrela anunciava; procuremos nós com igual diligência todos os meios de salvação, e apliquemo-los com perseverança, cumprindo com nosso dever, sem fazer caso de humanos respeitos. Turbou-se Herodes, porque, ambicioso e cruel que era, receava que o novo Rei o enxotasse e lhe infligisse o merecido castigo de seus crimes. Turbaram-se também os habitantes de Jerusalém, uns porque se temiam dos furores de Herodes, outros por causa das suas próprias más obras.

Seja ambição nossa da glória imortal; juntemos, por todos os meios que se nos oferecerem, riquezas imperecedoiras; com a nossa consciência tranquila aguardaremos sem abalo todos os acontecimentos. De nada lhes valeu aos judeus o saberem do tempo e lugar do nascimento do Salvador, que o declararam a Herodes; de nada lhes valeu o mostrarem aos Magos o caminho que a Jesus levava; de nada tampouco nos valeria, a nós outros, o conhecermos a lei de Deus, nem ao menos o ensina-la aos mais, se não conformássemos com ela nossa vida.

Por que dizia Herodes que queria adorar ao menino?

Disfarçava com essa hipocrisia seu malvado intento de matar o Messias. Assim os maus, com enganosas demonstrações, procuram ferir de morte as almas inocentes, tirando-lhes a pureza e a honra; toda a reserva e cautela para com estes lobos vestidos de ovelhas! não o esqueçam os pais e mães e outros responsáveis pela preservação dos inocentes.

E prostrando-se o adoraram?

A luz da fé com que Deus galardoou-lhes a docilidade, os Magos reconheceram naquele infante, nas pobres faixas pueris, o Messias esperado, o Ungido do Senhor, o Salvador do Mundo. A seus pés logo se prostraram, a moda do Oriente, em profunda e ardente adoração. Que figura fazem, em presença dos Reis assim prostrados, certos cristãos nossos que mal se curvam um joelho, e não o dobram, perante o Santíssimo Sacramento do Altar?

Com o ouro, o incenso e a mirra, significaram os Magos a sua fé; reparai no que ofertam, diz S. Fulgêncio, e vereis o que creem. Explicam os padres que com o ouro rendiam preito ao Rei, com o incenso adoravam a Deus, com a mirra professavam a sua humanidade.

Ofereçamos também nós a Jesus nosso ouro, que seja a constante abnegação de nós mesmos, o sacrifício da nossa vontade nosso ouro mais fino, e a esmola aos pobres, seus representantes oficiais; e o incenso da nossa oração abrasada; não esqueçamos a mirra, fugindo de todo prazer vedado, e conservando rigorosamente a pureza do corpo e da alma.

Tornaram-se por outro caminho ao seu país?

Depois de convertidos, entremos em novos caminhos; deixemos os do pecado que do Céu nos afastaram, o da penitência nos levará a eterna Glória.

Petição

Divino Salvador Meu! Dai-me a fé dos Magos; com a luz que os guiou chamai meu coração, para que vos busque, a Vós que primeiro me buscastes, para que finalmente vos ache e vos alcance, vos adore em verdade sobre a terra e vos possua sempre no Céu. Amém. (Goffiné, 1912).

A Adoração dos Reis Magos, Peter Paul Rubens, 1609;1628-1629


Adoração dos Reis Magos, Diego Velázquez, 1619


Adoração dos Reis Magos, Jerónimo Ezquerra


Adoração dos Reis Magos, tapeçaria, vários artistas, 1894*



Adoração dos Três Reis, Gyula Benczúr, 1911







*para mais informações dessa obra clique aqui

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Plautilla Nelli

Irmã Plautilla Nelli

Como é uma raridade encontrar mulheres que se destacam em atividades predominantemente ocupadas pelo sexo masculino, sempre que descubro uma mulher que faça parte de qualquer atividade com maioria exercida pelos varões, fico felicíssima e sinto tremenda vontade de partilhar com o mundo inteiro. E cá estou eu fazendo exatamente isso. Vasculhando meus favoritos, encontrei uma página com as obras de arte de uma certa Plautilla Nelli. Que nome curioso. De imediato, antes de abrir a página, não tinha identificado o gênero da pessoa em questão. Quando finalmente abri a página, que grata surpresa foi ver que se tratava de uma mulher. Plautilla não foi muito prolífera, mas o pouco que fez (ao menos que consegui encontrar), é simplesmente fantástico! Sem dúvida uma das melhores da arte renascentista!


Para expor uma pequena biografia desta mulher, começo apresentando seu nome, batizada como Pulisena Marguerita Nelli. Ela nasceu no século XVI, mais precisamente no ano de 1524, numa rica família da região de Florença, Itália. Seu pai era comerciante de tecidos e a família recebeu uma homengaem, uma rua que leva seu nome, a Via del canto de'Neli.


Pulisena entra para o convento dominicano de Santa Catarina de Sena em Florença, aos 14 anos, e adota o nome de Irmã Plautilla. Lá, teve uma vida espiritual e pôde desenvolver seu talento como pintora. Conta-se que foi influenciada por dois famosos dominicanos, Fra Bartolommeo e Girolamo Savonarola, sendo este último uma figura controversa, que chegou a ser excomungado pelo papa Alexandre VI e queimado em praça pública, sendo considerado herege. 


No convento, a Irmã Plautilla e as demais freiras eram assistidas e administradas pelos irmãos dominicanos, os quais eram dirigidos pelo Savonarola. Ele incentivava a arte nos conventos femininos, como meio de espantar a preguiça, e obter belas artes religiosas e piedosas. Deste modo, esta época pode ser considerada um polo de freiras pintoras. Elas também mantinham a arte como modo de sobrevivência, pois recebiam encomendas dos mais abastados da cidade.


Ela foi priora do convento por três vezes. Também sua irmã era uma freira dominicana, a Irmã Petronilla, que chegou a escrever uma biografia de Savonarola. 


A obra de Plautilla 


Apesar de ser autodidata, Plautilla começou seus trabalhos como muitos artistas da época, copiando obras de outros artistas. Suas primeiras cópias foram de Agnolo Bronzino e de Andrea del Sarto. Sua principal fonte de inspiração vinha das cópias dos trabalhos de Fra Bartolommeo, muito próximo do estilo classicista, reforçada porém com as teorias artísticas de Savonarola. Fra Bartolomeo deixou seus esboços com seu pupilo, Fra Paolino, que por sua vez entregou à uma freira que pintava do Convento de Santa Catarina de Siena.


Seu trabalho e estilo se distingue daqueles que a influenciaram pelo grande sentimento e emoção que ela pintava nas expressões de seus retratados. As figuras chorosas eram retratadas com os olhos vermelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto quando necessário. A maioria de seus quadros eram em grande escala, algo incomum para os trabalhos de mulheres, em especial para aquele período.

Plautilla é uma das únicas mulheres pintoras a ser mencionada no livro de Giorgio Vasari, "Lives of the Most Excellent Painters, Sculptors, and Architects" ("Vidas dos Excelentes Pintores, Escultores e Tradutores"). Seu trabalho é caracterizado pelo tema religioso, com retratos vívidos e emotivos nas faces de santos e santas. Plautilla, porém, nunca teve acesso a nenhum estudo formal de pintura e pela moral religiosa e social da época, além de suas "características femininas", ela foi proibida de estudar modelos nus.

Irmã Plautilla não produziu apenas quadros, mas também ilustrações para livros, desenhos e lentes decoradas. Seus quadros estão hoje em galerias como a Galleria degli Uffizi e em várias igrejas e conventos pela Itália. Seu grande quadro, A Última Ceia, um óleo sobre tela de 6,7 metros, é o primeiro na história da arte a ser pintado por uma mulher. A obra foi restaurada e é exibida no Museu de Santa Maria Novella, em Florença. 

Seus quadros representam uma ousadia criativa sem precedentes para freiras pintoras da época, normalmente relegadas a criar miniaturas, tecidos ou esculturas em terracota e madeira. Ao criar e assinar este enorme quadro, Plautilla foi colocada em igualdade com seus contemporâneos, como Leonardo Da Vinci, Andrea del Sarto e Domenico Ghirlandaio.

É importante frisar que frisar que irmã Plautilla foi a primeira artista do Renascimento em Florença. E temos de admitir, que ela era realmente genial. Ou melhor, inspirada por Deus. Ela morreu aos 64 anos, em 1588.

Obras

A Última Ceia

Lamentação com santos, 1569

Lamentação com santos (detalhe), 1569

Aflição de Nossa Senhora

Santa Catarina de Sena recebendo os estigmas

Santa Catarina de Sena com lírio

São Domingos recebendo o Rosário

Fontes consultadas:

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